blog da Lori

repetição e referências no cinema

eu não li, só vi as fotos. mas eu tenho q defender o único olho esbugalhado como icônico no cinema pq essa é uma referência visual do filme "Um cão andaluz" (un chien andalou - 1929) do Buñuel e do Dali.

se vcs quiserem e tiverem interesse eu posso explicar pq a repetição de alguns símbolos faz sentido e é positiva pelo menos quando a gente fala de arte, mas principalmente quando a gente fala de cinema.

@ivanjeronimo https://bolha.one/@ivanjeronimo/113829490517607677

então, vou explicar. o ser humano aprende a fruir a arte.

eu ACHO q isso se aplica a todas as expressões de arte, mas eu vou explicar com foco no cinema pq foi o q eu estudei especificamente e é uma mídia jovem (tem um pouco mais de um século) então a gente pode traçar a evolução desse aprendizado com clareza e registros históricos.

a princípio o cinema era uma "curiosidade". as imagens projetadas numa velocidade acima de 5 frames por segundo darem uma impressão de movimento e etc. existiam até várias maneiras diferentes de criar essa "ilusão de movimento". um dia a gente pode conversar sobre elas. mas era coisa de segundos. as pessoas iam lá num evento "Vaudeville" e esses eventos eram caracterizados por vários artistas se apresentando, uns cantavam, uns dançavam, uma coisa meio "se vira nos 30" e nesses eventos tinha tipo uma barraca com algum desses mecanismos de "cinema" (de cinemático, de movimento) q as pessoas iam ver um cavalo correndo ou qualquer coisa, uns 30 segundos, e ficavam abismadas. pq era muito diferente. muito mágico.

tipo Geocities 1998 com os GIFs animados. coisa rápida. coisa simples. mas muito fascinante.

aí tinham esses irmãos. os Lumiere. eles entendiam do riscado de fotografia, de filme fotográfico. e eles invetaram uma máquina chamada de cinematógrafo e também a máquina de projeção. então eles começaram a divulgar q era possível criar essas "imagens em movimento" da própria vida real, vc podia filmar qualquer coisa. e também exibir várias vezes. então eles filmavam assim: o trem chegando na estação. o lanche do bebê.

q eu lembro agora são esses, mas se vc procurar vc vai ver q os "filmes" dos Lumiere são coisas assim. triviais. do dia a dia. o incrível era conseguir registrar e rever esses momentos projetados.

aí tinha esse cara chamado Méliès. artista, né? ele viu esse cinematógrafo e falou "EU VOU FAZER UNS NEGÓCIOS BEM DOIDO BONITO DEMAIS COM ISSO AÍ"

só q os irmãos Lumiere falaram "ah mas não vai mesmo, vc respeita meu cinematografo q ele é pra ser usado com SERIEDADE" e simplesmente não venderam o cinematografo pra ele.

só q artista é artista. ele deu os pulo dele. arrumou outro cara pra fazer um cinematógrafo pra ele. depois ele foi alterando, inventando coisa. e aí ele fazia os filmes mais lindos. bem artísticos. bem criativos. maravilhosos. (ele inventou quase tudo de bonito q a gente tem no cinema)

eu achei q eu ia conseguir chegar no meu ponto rápido e estou presa no final do século XIX aproximadamente.

eu engano a mim mesma.

onde q eu tava?

sim. o negócio de filmar e projetar o filme foi pegando embalo. e aí ele foi saindo desses eventos pontuais e se tornando um "entretenimento" mais popular. assim surgiram os Nickelodeons

(aaaaahhhh APOSTO Q VC NÃO SABIA Q NICKELODEON ERA OUTRA COISA ANTES DE SER A NICKELODEON Q VC CONHECE)

Nickelodeons eram as primeiras salas de cinema. inclusive os empresários q eram donos dessas salas vcs conhecem o nome deles todos. mas eu não vou dar spoilers. tinham essas salas. q chamavam Nickelodeons pq a entrava custava um níquel (5 centavos). e nessas salas tinha exibição de filmes (q na época eram BEM MAIS CURTOS).

então assim, cada sessão era um filme diferente. pra agradar o público que ia em cada horário.

só que não existia um mercado de distribuição de filmes, né? então o q q o pessoal fazia? "ah andam falando em tal cidade q o filme do Frankenstein é muito bom" aí o dono daquela rede de Nickelodeons ia lá e mandava fazer um Frankenstein pra exibir. as películas iam gastando e estragando eles iam lá e filmava outro parecido. dessa época tem um monte de filme repetido, um monte de Joana Darc diferente. um monte de coisa se perdeu.

acho q eu botei o carro na frente dos bois. talvez eu tenha q voltar no tempo.

teve um momento q um cara, q eu não vou falar o nome pq ele não merece, criou um filme diferente. eu vou falar o nome do filme caso alguém queira se aprofundar mas tbm não merecia: The birth of a nation.

pq q não merece? pq o cara era racista.

pq q o filme não merece? pq é um filme q os heróis são a ku klux klan.

só q eu tenho q falar disso. pq esse cara foi o primeiro cara a criar uma narrativa cinematográfica. ele foi a primeira pessoa a entender q certas técnicas de filmagem e edição encaminhavam o espectador a sentir emoções. então nessa parte técnica a maior parte dos diretores q foram importantes no desenvolvimento do cinema posteriormente aprenderam com ele. mas aí hj em dia a gente larga ele ali no cantinho só pra constar pq, né? não vale a pena. cada vez vale menos a pena.

voltando. os Nickelodeons faziam cada um sua versão do filme. e ficando cada vez mais ricos. aí a coisa foi se organizando, se tornando uma indústria de fato. e aí esses mesmos donos dos Nickelodeons se tornaram os donos dos estúdios.

eu disse q vcs sabiam os nomes deles mas eu só tô lembrando dos Metro-Goldwyn-Mayer. MGM. mas os nomes de estúdios dessa época eram tudo os nomes dos donos dos cinemas.

eu desviei completamente do assunto original. :D

agora eu não lembro mais o q eu ia falar.

é mentira. eu não desviei. pq tudo tá interconectado. mas eu não tô sabendo simplificar.

começam os estúdios. lembra q até aí ainda era cinema mudo. é q agora o negócio faz assim BUM💥 e se ramifica pra vários lados. mas ao mesmo tempo agora todo mundo vai meio q assistir os mesmos filmes.

mas repara também que tem uma evolução tecnológica bem rápida. as câmeras vão melhorando, as películas melhorando, as projeções melhorando, e as técnicas vão sendo refinadas.

o fato é que cada inovação (principalmente técnica e narrativa*) o espectador vai primeiro ficar EM CHOQUE. depois ele vai se acostumar. e depois ela vai ser repetida, até se tornar meio que um acordo entre o espectador e os filmes.

os gêneros cinematográficos são isso. um acordo. o espectador tanto pode escolher assistir um filme por saber q ele é de um gênero que lhe agrada, quanto identificar o q esperar de um filme nos primeiros minutos pq ele vai ter aqueles clichês de gênero identificáveis. pode ser um movimento de câmera, um enquadramento, uma trilha, uma iluminação. cada um desses aspectos vão entrando na biblioteca mental dos espectadores e funcionando para comunicar mais coisas e construir narrativas mais complexas sem aumentar muito o tempo do filme.

e até hoje isso acontece. nunca para de acontecer. mas quando tem uma transição por exemplo do cinema mudo para o cinema falado primeiro os espectadores se assustam, ficam impressionados, acham meio difícil de entender. aí eles aprendem. e aí o cinema sem falas se torna desinteressante.

a mesma coisa vai acontecer quando começa o cinema colorido. um impacto. um exagero. e aí o espectador aprende e se acostuma e perde aquela fascinação inicial e já espera aquela explosão de cores SEMPRE.

em coisas bem definidas como falas ou cores é fácil de perceber isso. mas isso tbm vai acontecer com coisas bem mais sutis.

é até difícil pro espectador comum imaginar o q é esse momento de transição geralmente pq ele só vai saber se ele tava lá. vou dar um exemplo "recente" o Memento (2000) do Nolan.

qdo esse filme saiu o pessoal saía do cinema assim "QUE?"

pq ele fez uma inovação narrativa. ele contou a história de um jeito q não era contada antes. então quem naquele ano entrou no cinema e viu aquele filme A CABEÇA EXPLODIU. pq era novo. era diferente. era difícil de entender.

mas aí a gente aprende. e vários filmes usam o mesmo recurso depois. e vai perdendo esse efeito de impressionar. aí quem vem depois, quem já chega com essa bagagem e essa compreensão fica assim "vcs são jacu? não vi nada demais".

o Nolan flertou com uma nova forma de narrativa em Inception (2010). ele foi lá e "VOU ENFIAR UMA NARRATIVA DENTRO DE OUTRA NARRATIVA DENTRO DE OUTRA NARRATIVA JEJEHEHEJ DENTRO DE OUTRA O PESSOAL VAI ENDOIDAR"

e foi bem maneiro mas a gente não endoidou pq a gente já tava craque de entender o vai e vem da narrativa. aí o impacto foi bem menor.

toda vez q eu falo "narrativa" eu lembro q cês detestam a palavra "narrativa" mas assim eu não posso fazer muito pq o nome é narrativa mesmo. hehehehhehehej

ah, outro filme q virou referência e inovou e na hora ficou todo doido, mas hj em dia é comum: Onde os fracos não tem vez (No country for old man - 2007)

não tem trilha sonora. o fato de não ter deixa o filme mais tenso.

tem milhões de exemplos dessas inovações, o filme q inova entra no hall de CLÁSSICOS. IMPERDÍVEIS. e as estratégias são repetidas ad infinitum enquanto existir cinema alguém pode usar daquela técnica pra passar uma ideia/mensagem/sentimento.

então o cinema é uma arte que constrói em cima de si mesma. ninguém inventa um filme no éter. no nada. um filme é o resultado de todos os filmes que vieram antes e mais um pouquinho (se for um bom filme).

qualquer pouquinho q for adicionado já dá um status pro filme.

um exercício mental interessante é: se a gente entrar na TARDIS e ir lá nos anos 70 buscar alguém. pode ser alguém craque de cinema. sei lá. vamo buscar o Hitchcock. e levar ele pra assistir um filme atual.

primeiro q ele vai endoidar do tanto q tudo vai ser impressionante.

segundo q talvez ele nem entenda a história. hehehehhee pq ele não vai ter a bagagem necessária pra compreender os acordos de gênero e as estratégias de edição e narrativa.

e agora pensando nisso é q me veio a ideia de q talvez seja algo nessa linha q está acontecendo com os jovens. seja falta de bagagem, seja pq eles já alcançaram uma compreensão de narrativas diferentes (por causa dos vídeos curtos em loop) eles acham chato demais assistir filme.

ESSA FOI MINHA TED TALK

OBRIGADA

aplausos