emails e lágrimas
Meu pai morreu em 2021. Dia 25 de outubro. Eu tinha prometido pra mim mesma nunca mais decorar dia de morte de quem eu amava porque virava mais um dia pra eu ficar triste, mas foi muito difícil não decorar no caso dele.
A vida toda a gente comentava que era curioso que a minha irmã tinha nascido no mesmo dia que ele (um dia 13) e eu tinha nascido no mesmo mês (abril). Aí ele morreu no mesmo dia do meu aniversário (um dia 25) no mesmo mês do aniversário da minha irmã (outubro). Isso significa alguma coisa? Não sei. Me dá a sensação de que a grande coisa da vida dele foi ser pai. Nosso pai. E isso ele fez muito bem. Eu ouço histórias sobre muitos pais e nenhum deles parece ser melhor pai do que o meu foi. Pra nós duas.
Mas ele não era só meu pai. Ele era meu melhor amigo também. A gente era muito parecido, desde que eu era bem pequena, nas qualidades e nos defeitos também. E a gente gostava da companhia um do outro. De conversar. De fazer coisas junto. De ficar um perto do outro mesmo em silêncio. A gente gostava de assistir filmes e seriados juntos e quando alguma coisa nos fazia lembrar de algum fato curioso a gente abaixava o volume (ou pausava) pra despejar informações por horas, um fato curioso puxava o outro e outro e outro. Às vezes eu tento contar fatos curiosos para as pessoas e elas não gostam de saber. Nessas horas eu sinto muita falta dele. De conversar sobre como é interessante o funcionamento de fornos de convecção ou qual a porcentagem de metal em celulares (35%).
Eu respeito muito as coisas dos outros. Eu não gosto que mexam nas minhas coisas e me sinto mal de mexer nas coisas dos outros. Isso enlouquece a minha mãe. Ela fica "tem que arrumar, jogar fora, ver o que tem" e eu fico "eu não vou mexer nas coisas dele". Hoje eu tive que mexer numa coisa. Tomei coragem. Precisava pegar a segunda via de uma conta no email dele. Eu guardava o celular dele pra fazer esse tipo de coisa, mas o celular dele sumiu em algum momento nos últimos meses. Aí eu pensei, pensei, e pensei e concluí que era mais fácil até pra preservar a conta que eu colocasse junto com as minhas. Eu administro várias contas de email, não ia ser tão difícil ficar com a dele no meu celular.
Aí eu mexi. Foi fácil guardar ou jogar fora tudo que chegou depois que ele morreu, difícil foi quando eu cheguei nas coisas dele. Nas coisas que ele decidiu deixar na caixa de entrada pra acessar com mais facilidade. Pra rever, pra reler, pra fazer. Os textos que ele escrevia e as pesquisas que ele fazia e mandava pra ele mesmo pra guardar. Os emails trocados comigo e com a minha irmã. As fotos que ele tirava e gostava, poucas.
Senti saudades dele e chorei. Pensei "agora eu vou ficar andando com os emails dele no bolso". Até que um passarinho entrou, e veio andando na minha direção até quase tocar meu pé.
Tá tudo bem.
Vai ficar tudo bem.