blog da Lori

amor negado

ontem eu tava vendo uma entrevista com o Justin Baldoni muito interessante.

link pra entrevista no YouTube

(eu estraguei meu algoritmo do YouTube hiperfocando nos problemas q deu com o filme dele e da Blake Lively no fim de semana btw. eu tbm hiperfoquei na história do Puff Daddy e estou arrependida pq eu queria não saber, mas enfim...)

a entrevista era interessante. ele tem um trabalho de debater masculinidade e de tipo "curar" os homens do mal q a misoginia faz pra eles. às vezes eu fico "ah pelo amor de deus" com algumas coisas q eles falam, mas ao mesmo tempo eu acho útil e necessário q alguém fale. aquela coisa meio "os homi também sofre os homi também chora". enfim....

aí ele terminou com uma frase q deu uma ardida.

"vc não tem q ser perfeito pra ser amado"

e assim eu acho q ardeu pq eu super acho q é isso q os homens fazem com as mulheres. (eu ia escrever "hetero" mas eu lembrei q homens gays fazem isso tbm) exigir uma perfeição. diminuir as mulheres por qualquer imperfeição.

eu tenho uma teoria de q os homens sempre nos negam amor. apesar de a maioria de nós sermos muito amorosas com eles. e eles justificam essa negação de amor muitas vezes por causa dos padrões. de beleza, de idade, de tudo. mas eu não acho q seja justificável. até qdo eles dizem gostar de vc eles negam amor.

e o q eu acredito (pessoalmente) é q eu sou amor.

era o q eu era antes de "tudo".

eu me lembro de um email q uma amiga me mandou lá pra 2007 que me descrevia dessa forma. q ela não entendia como era possível uma pessoa amar tão generosamente como eu. q eu era o amor em forma de gente.

isso bate um pouco com a questão do autismo. falam q a gente é idiota pq não percebe a maldade das pessoas. e assim, por muitos anos eu tentei aprender a perceber pra me proteger. isso foi uma das coisas q foi me levando a me isolar e me tornar hikikomori.

e, eu acho q essa percepção me pegou no ano passado: não sou eu q tô errada. se as pessoas são malignas e mal intencionadas a falha não é minha. se eu consigo ver bondade e beleza nelas e elas se aproveitam disso pra me machucar isso atesta contra elas. não contra mim.

e desde então eu tento, ativamente, me impedir de ficar analisando demais as pessoas, de ficar procurando os sinais de q não estão sendo verdadeiras ou bem intencionadas. ainda é um exercício, eu não consigo sempre pq já criei o hábito de fazer o contrário, mas a minha intenção é largar esse hábito.

eu sei q eventualmente as pessoas vão me machucar, mas eu sou forte. eu choro e fico triste e decepcionada, mas eu melhoro depois. e com mais tempo uma hora eu entendo. eu entendo q a pessoa fez o melhor q ela conseguia. q tudo bem. q o melhor q ela consegue é ser uma pessoa assim. q não é sobre mim.

eu também acho q todo mundo tem a capacidade de ser amor.

mas q as experiências de vida de cada um às vezes vão afastando a pessoa de quem ela poderia ser e transformaram ela em quem ela é.

por causa das minhas experiências de vida por muitos anos eu não fui amor. eu fui tristeza e medo.

por causa das experiências de vida algumas pessoas não vão ser amor. vão ser maldade.

eu brinco q eu tenho "o gene da maldade". minha avó era uma pessoa extremamente cruel e maligna. e eu cresci com muito contato com ela. vendo ela ser ruim. tanto comigo quanto com os outros.

eu parei de falar com ela por vários anos. e no final da vida dela eu já tinha desistido há muito tempo. eu percebi q eu não aguentava mais o quanto ela me machucava sempre.

quando ela adoeceu e teve q ir pro asilo e eventualmente morreu já tinha uns anos q eu me recusava a conviver com ela. minha irmã ainda levou minha sobrinha, bebê, pra ela conhecer no asilo. a reação dela foi criticar o bebê e dizer q o nome q minha irmã tinha escolhido era o nome mais horrível que existia. era o mesmo nome dela.

quando ela morreu eu cantei alegremente "Ding! Dong! The witch is dead!"

mas eu sentia medo do "gene da maldade" se ativar em mim. se vc tirasse todos os traços de maldade dela o q sobrava era tudo q eu sou se vc tirar todo os traços autismo (q me fazem parecer muito mais a família do meu pai). eu era a neta mais parecida com ela. fisicamente quase um clone. naqueles aplicativos q envelhecem a nossa foto o q saía era uma foto dela. o carisma q eu tenho é exatamente como o carisma dela (q facilitava para as pessoas caírem nas teias de maldade q ela tecia). às vezes eu suspeito q as dificuldades que a minha mãe tem comigo tem a ver com o quanto eu a faço lembrar da mãe dela.

os anos foram passando, eu fui refletindo e relembrando o q ela me contava sobre a vida dela. ela foi vítima de muita maldade e crueldade ainda criança. um golpe de sorte fez meu avô entrar na vida dela, mas ainda assim, apesar do amor q ela tinha, não foi fácil. depois q eu estava bem mais em paz com quem ela era e entendendo muito mais o q fez ela ficar assim eu achei diários dela.

é engraçado como esse tipo de coisa acontece, né?

quando ela adoeceu meu tio vendeu tudo q tivesse algum valor da casa dela. e o q sobrou, umas coisas pessoais, vieram parar aqui em casa, no "quartinho da bagunça". um dia do nada eu entrei lá e notei uns cadernos e me deu o impulso de abrir e lê-los. eram diários. não tinham muitas entradas, mas algumas interessantes.

-- vc sabia q o seu pai ameaçava largar a sua mãe toda vez q vc e o titio faziam merda?

-- claro q não. meu pai nunca faria isso.

-- é sim. eu achei um diário da vovó. então ele não era esse santo todo q todo mundo se lembra, né?

as coisas q a gente não sabe q aconteceram. as coisas q vão fazendo as pessoas se tornarem quem elas acabam sendo.....

eu também entendi que muitas condições das mulheres na época dela tornavam as coisas ainda piores. ela era extremamente inteligente. ela via um trabalhador consertando um eletrodoméstico uma única vez e nunca mais precisava dele. ela mesma consertava. mas ela não lia bem, e escrevia mal tbm.

eu fico pensando que se ela tivesse tido as ferramentas pra ler e estudar talvez ela não usasse toda a inteligência dela pra fazer maldade.

ela era uma gênia do mal.

era uma capacidade impressionante de moer as pessoas. mesmo q eu avisasse "cuidado, não dá muito espaço q ela vai te destruir" as pessoas caíam mesmo assim. e voltavam destroçadas me perguntando "como q ela consegue fazer isso?"

eu ria, até um pouco orgulhosa: ela é uma gênia da maldade.

mas uma hora eu entendi q ela poderia ter sido amor. q ela também tinha chegado nesse mundo com o potencial de ser puro amor.

dá pra ver isso nas crianças. eu trabalhei em creche, dando aula de artes, e não tem uma criança q não seja puro amor. dezenas e dezenas de crianças sendo amor. menos o wesley.

tadinho do wesley. o wesley era maldade. eu não entendia como, porque, o q q tava acontecendo?

aí um dia eu levei pra diretora "eu não consigo dar aula pro wesley. ele faz bullying comigo até eu chorar". uma criança de 5 anos. nem fazia sentido aquilo.

era uma creche numa comunidade. aí ela me explicou q o wesley era criado por vários adictos. mãe, tios, avós, todos adictos. de crack. q no ano anterior ele tinha ido pra creche com os dentes todos inflamados e sentia dor constantemente, por meses. q a creche não podia medicar e ela tinha pedido pra família insistentemente q fizesse alguma coisa, nem q fosse mandar um analgésico pro pessoal da creche dar. mas eles não fizeram nada. a situação continuou assim até o pessoal da creche conseguir um dentista voluntário pra ajudá-lo.

as experiências de vida dele já estavam fazendo ele se tornar quem ele era. mesmo tão pequeno.

se uma pessoa não recebe amor é difícil ela continuar sendo amor.

então eu tenho pensado sobre isso. sobre como eu tenho amor dentro de mim e o quanto eu quero fazer esse amor fluir pra fora e tocar todas as coisas e pessoas q fizerem parte da minha experiência de vida.

eu ainda não sei o q fazer com quem em resposta ao meu amor me nega amor. eu não sei como lidar com os wesleys.

talvez eu não consiga continuar despejando meu amor neles, por enquanto.

espero q um dia eu consiga. q não faça diferença.

mas agora eu tenho q descobrir uma maneira de continuar amando apesar deles.